O futuro são as pessoas e constrói-se no presente

Artigo de opinião de Armandina Saleiro, Vereadora com os Pelouros da Ação Social, Saúde Pública, Educação Museus e Bibliotecas no Município de Barcelos
Bernardo Soares, um dos heterónimos de Fernando Pessoa, dizia numa das muitas reflexões do Livro do Desassossego: “Vivo sempre no presente. O futuro não conheço”.
Tais palavras ecoam nos nossos dias também eles tomados pelo desassossego.
A Pandemia Covid19 tornou de forma abrupta o nosso presente um lugar dominado pelo medo e o nosso futuro um lugar incerto. Mas nem o medo nem a incerteza nos impediram de rapidamente nos organizarmos enquanto sociedade, adaptando-nos ao “novo presente” para construír o futuro de forma responsável.
Transformaram-se os nossos dias, as nossas rotinas, a forma de nos relacionarmos e de nos organizarmos enquanto sociedade. Tomámos consciência de como as nossas ações afetam a vida dos outros, do nosso papel e responsabilidade enquanto cidadãos. Também enquanto autarcas, eleitos para servir as nossas comunidade, fomos chamados à responsabilidade de, perante um momento tão difícil, podermos garantia a segurança, proteção social e saúde, assegurando as necessidades básicas de vida às pessoas, mas também as necessidades ao nível do bem estar psicológico e social.
Tempo de grande complexidade, de grande desafio, tempo de mudança.
Enquanto autarca, responsável pelos pelouros da ação social, saúde pública, educação museus e bibliotecas no Município de Barcelos, gostava de poder refletir um pouco sobre o presente e o futuro, que ganhou, por estes dias, um novo significado. Não o significado do medo, da inércia, do confinamento, da solidão, do isolamento, das tantas perdas humanas. Essas são as marcas que ficam gravadas na nossa memória individual e coletiva e que não poderão ser apagadas.
Falo-vos do presente. Do presente que marcou os dias da pandemia. Do presente que nos obrigou a trabalhar em conjunto. No presente que nos forçou a uma grande articulação interinstitucional, levando as instituições a quebrarem barreiras, a ultrapassarem burocracias e a construírem soluções. Que obrigou todos os decisores das instituições chave da nossa comunidade a trabalharem numa cumplicidade nunca vista, numa rede coesa, mesmo sentados sozinhos em frente a um ecrã, o que ajudou a debelar as inúmeras situações complexas, com as quais fomos confrontados.
Falo-vos da importância de uma sociedade civil coesa, marcada por inúmeras ações coletivas e individuais de altruísmo e voluntario. De inúmeros projetos criados de forma espontânea, com um único propósito, proteger o outro, ajudar os outros, especialmente os mais vulneráveis face a esta nova doença que, como sabemos, são os mais velhos. Falo-vos do trabalho colaborativo entre o Município e as instituições da comunidade, que rapidamente foram capazes de suprir necessidades básicas junto de famílias vulneráveis, tendo sido distribuídos durante este período, mais de uma centena de cabazes alimentares, e encetados esforços para o reforço para o dobro da capacidade do programa mensal, de apoio alimentar às famílias barcelenses.
Falo-vos da capacidade admirável de algumas estruturas básicas da nossa sociedade se adaptarem, em concreto das nossas escolas. A forma como toda a comunidade educativa teve capacidade de se reinventar. Em poucas semanas, todo o processo educativo sofreu uma mudança radical. Caíram os muros da sala de aula e as casas de cada um – dos professores e alunos – transformaram-se em verdadeiras salas de aprendizagem. Uma aprendizagem diferente, mas igualmente exigente e estimulante. Uma aprendizagem que envolve mais do que nunca a família, que se tem mostrado à altura do desafio.
Salienta-se ainda neste processo, o esforço coletivo de toda a comunidade: Município, juntas de freguesias e outras estruturas no âmbito da responsabilidade social que, de forma célere, aturam no sentido de garantir a igualdade de oportunidades a todos os alunos, suprindo todas as necessidades relacionadas com os equipamentos informáticos indispensáveis ao ensino à distância.
Ainda neste âmbito, salienta-se a capacidade das equipas multidisciplinares sob a alçada do Município (psicólogos e terapeutas), reinventarem o seu trabalho no apoio aos alunos e famílias, ou do reforço da plataforma de Partilha de Aprendizagem + Cidadania, que tornou o ensino à distância um espaço colaborativo partilhado por toda a comunidade educativa de Barcelos.
Falo-vos da abnegação dos profissionais de saúde, que nos deixou a todos sem palavras pela sua luta diária na linha da frente do combate à pandemia, e do trabalho de elevado profissionalismo da Unidade de Saúde Pública, numa articulação permanente com o Município, permitindo mitigar os efeitos e conter a propagação da pandemia na comunidade.
Reforço de forma especial as minhas palavras para as instituições particulares de solidariedade social que, de forma exemplar, souberam proteger os mais velhos, num admirável esforço das suas direções e equipas técnicas, reforçando o espírito de trabalho em rede e coesão social da nossa comunidade. Neste campo, o Município atento às dificuldades das IPSS para garantirem os equipamentos de proteção individuais, comparticipou integralmente a compra dos mesmos, o que representou um apoio superior a 200 mil euros, investidos na proteção das pessoas mais vulneráveis.
Neste esforço coletivo de garantir o presente às pessoas, percebemos que estamos a construir o futuro. Um futuro que é ainda um lugar incerto, mas onde os exemplos do presente nos dão a esperança, e talvez a certeza, de um futuro mais próspero para todos. Um futuro onde possamos continuar a pugnar pelos direitos, liberdades e garantias de todos os cidadãos, construindo uma sociedade mais coesa, mais justa e mais igual.
O futuro são as pessoas e constrói-se no presente!